Os usuários de calibração de equipamentos críticos, acreditados à RBC – Rede Brasileira de Calibração ou RBLE – Rede Brasileira de Laboratório de Ensaio, ou mesmo as calibrações ditas “Rastreadas”, quando do recebimento destes serviços, acabam criando tarefas para o tomador destes serviços.
Antes mesmo do serviço começar, já é preciso que usuário destas calibrações, avalie se o candidato a “Provedor de Serviço”, possui condições técnicas, padrões adequados, calibrados, válidos, que tenha também, conhecimento, qualidade, para prestar um serviço que atenda às necessidades do tomador. Como checar tudo isso? Responderemos esta e várias outras perguntas à frente.
Qualificar o "Provedor de Serviço", é uma das primeiras tarefas, antes que o serviço comece, mas depois do serviço finalizado, sobram novas tarefas que precisam ser executadas, para que o resultado seja o esperado, com equipamentos calibrados, validados, erros sob controle e disponíveis para uso. Precisamos também, qualificar também o nosso "Provedor de Produtos", mas daremos foco ao serviço nesta matéria.
Para que tudo isso aconteça, é preciso entender e fazer algumas tarefas, que estão enumeradas a seguir:
1 – Qualificar o provedor externo de serviço;
2 – Informar a este provedor, os seus Critérios de Aceitaçã;
3 – Acompanhar a realização dos serviços;
4 – Montar um Critério de Aceitação, para validar o certificado de calibração;
5 – Montar um Critério de Aceitação, para as Checagens Intermediárias;
6 – Ajustes dos Erros Sistemáticos (E), quando possível;
7 – Validação dos Certificados de Calibração, baseado num Critério de Aceitação, adequado;
8 – O que o certificado de calibração precisa ter?
9 – O que o certificado de calibração não deve ter?
1.0 – Qualificar o Provedor Externo de Serviço
Antes de iniciar os serviços, é preciso qualificar o provedor de serviço externo, antes que este execute as suas calibrações, aí caso não goste, deste provedor, já será tarde para descobrir que este não tem a qualidade necessária para fazer as suas calibrações. Normalmente a qualidade e preço andam juntos, portanto, é preciso saber se o seu candidato a provedor, consegue te entregar a qualidade que você e seu processo precisam.
Normalmente esta qualificação pode ser feita de duas maneiras, enviando um questionário ao candidato a provedor ou indo pessoalmente aplicar este questionário:
1.1 - Enviando o Questionário
Através de um questionário, que você pode enviar ao seu provedor e, você terá as respostas que precisa, sobre a qualidade dos padrões que serão utilizados (classe por exemplo), se os serviços terão ajustes de erros sistemáticos, caso precise, se o provedor tem um sistema da Qualidade implementado, por exemplo (ISO 17025:2017), quantos pontos serão calibrados, qual será o tamanho da Incerteza Expandida (U), etc.
1.2 – Visita ao Provedor
Você pode também, fazer uma visita ao seu possível provedor, para checar a estrutura, padrões, conhecimento, planilhas de cálculo, validação dessas planilhas, qualidade do certificado de calibração etc. Certamente você irá descobrir tudo que precisa, para tomar a melhor decisão, baseada em dados, o que sempre torna a decisão a mais fácil e correta, ou seja, preço bom com a qualidade que preciso.
2.0 – Informar a este provedor, os seus Critérios de Aceitação
A Norma ISO 17025:2017, diz que temos que informar todos os dados que consideramos relevantes para o nosso provedor, antes que o serviço começe. Estes dados em geral são:
(i) – O Critério de Aceitação, ou seja, qual é o tamanho do Erro que podemos aceitar, se vai ter ajustes desses erros;
(ii) – Qual é o tamanho da Incerteza Expandida, que queremos;
(iii) – Que tipo de calibração queremos (Acreditada ou Rastreada);
(iv) - Quais são os pontos de calibração;
(v) – Classe dos padrões, quando aplicável (se uma Balança, qual é a classe do peso padrão por exemplo);
(vi) – Quais restrições se tem, horários mais adequados, se precisa integração dos técnicos, EPIs que serão necessários etc.
3.0 – Acompanhar a Realização dos Serviços
Acompanhar a realização dos serviços, é uma obrigação e é uma maneira barata e eficaz, de saber se durante a entrega dos serviços, você escolheu bem o seu provedor de serviço externo. Ver se ele faz a quantidade pontos combinados, se este está repetindo a quantida vezes combinadas, por exemplo 3 leituras por ponto, como é a qualidade dos padrões de referência utilizados na calibração etc.
Valores de calibração RBC por R$ 30,00, é uma afronta à metrologia, à qualidade e ao bom senso. Se um provedor calibrar 15 ou 20 balanças ao dia, é impossível fazer um bom trabalho, vai apenas fabricar/produzir certificados calibração, sem nenhuma qualidade ou dados que traduza a realidade do equipamento calibrado.
É humanamente impossível fazer 12 calibrações de balança por dia, algumas empresas fazem 30, será que fazem alguma no seu equipamento, ou só fabrica certificado, sem nenhuma qualidade metrológica? Fica aqui um lembrete importante.
4.0 – Montar um Critério de Aceitação, para as Checagens Intermediárias
É preciso tem um Critério de Aceitação para utilizar nas Checagens Intermediárias, feitas pelo menos uma vez entre calibrações externas. Pode-se fazer mais vezes e o propósito é descobrir se o equipamento que foi calibrado, por exemplo a 6 meses atrás, continua com os erros sistemáticos sob controle, ou não.
A função deste critério, é aprovar equipamentos bons e reprovar equipamentos ruins, onde o erro sistemático ultrapassou os limites pré-estabelecidos.
Equipamentos reprovados na Checagem Intermediária, precisam ser identificados, segregados, ajustados quando possível, novamente calibrados e se forem aprovados, liberados para uso.
5.0 – Montar um Critério de Aceitação, para validar o certificado de calibração
Antes de usarmos o equipamento que acabou de ser calibrado, interna ou externamente, é preciso avaliar se os Erros (E) e a Incerteza Expandida (U), relatados no certificado de calibração, são menores do que o meu Critério de Aceitação para equipamentos calibrados externamente, é um pouco diferente da Checagem Intermediária. Aqui eu calibro externamente, se não tenho condições técnicas de realizar estas calibrações e preciso avaliar principalmente Erro e Incerteza Expandida, para ver se estes dados são menores que o Critério de Aceitação que tenho para aquele equipamento. Nesta verificação dos certificados de calibração feitos externamente, analiso outros dados do certificado, tais como relacionados no (item 8), à frente.
6.0 – Ajustes dos Erros Sistemáticos (E)
É muito comum pedirmos para ajustar os erros sistemáticos dos nossos pesos padrão, quando estes saem de suas classes originais de fábrica, por exemplo pesos padrão (E1, E2, F1, F2, M1, M2 e M3), segundo a OIML – Organização Internacional de Metrologia Legal. Quanto a outros tipos de equipamentos, quando apresentarem Erros Sistemáticos além do que consigo tolerar, é preciso que estes ajustes sejam feitos, com base em um padrão de referência com qualidade adequada (classe). Nem todos os equipamentos possuiem ajustes, Termohigrômetros, Termômetros por exemplo, não se consegue ajustar e, pelo baixo valor de compra, estes são normalmente substituídos, quando estes erros são maiores que o meu Critério de Aceitação.
7.0 – Validação dos Certificados de Calibração
A Validação dos certificados de calibração, é um tipo de registro feito através de uma etiqueta ou um carimbo, que colocamos na primeira página do certificado de calibração, para indicar que um equipamento foi calibrado, avaliado, teve seus Erros (E) e Incerteza Expandida (U) analisados criticamente e, que passou no Critério de Aceitação, previamente montado para esta comparação. Também indica que outros dados, conforme listado no item 8 a seguir, foram também avaliados e foram aprovados. Também significa a autorização deste equipamento para uso.
Esta etiqueta ou carimbo, deve ter:
- Dizeres que é a Validação da empresa XYZ Ltda;
- Um traço horizontal para visto do Responsável (pela validação);
- E a data desta validação.
8.0 – O que o Certificado de Calibração Deve Ter
O Certificado de Calibração, é um documento de suma importância, mas que não é totalmente compreendido por muitos usuários de calibração ainda. O certificado precisa ser exato, claro, objetivo, sem ambiguidades, conforme dito na ISO 17025:2017 (item 7.8.1.2).
O certificado, precisa:
(i) – Ter um nome que o identifique como (Certificado de Calibração ou Relatório de Ensaio), por exemplo;
(ii) – Ter um número que seja único;
(iii) – Data da Calibração e da Emissão do Certificado;
(iv) – Condições Ambientais onde se realizou a calibração, se for uma calibração rastreada, com a Temperatura e Umidade Relativa e se for acreditada, acrescer também a Pressão Atmosférica, para várias grandezas, tais como balança, volume, pressão etc.;
(v) – Rastreabilidade dos padrões utilizados, com Identificado do padrão, Nome do Laboratório que calibrou, Nº do Certificado, CAL deste Laboratório junto à CGCRE, Data da calibração e Validade desta calibração;
(vi) – Método de Calibração e Procedimento utilizado, com a revisão atual deste procedimento e o número de leituras por ponto (n);
(vii) – Tabela de Resultados com: (VN) - Valor Nominal, (VR) - Valor de Referência, (VMO) - Valor Médio do Objeto do que se está calibrando, (E) - Erro, (U) - Incerteza Expandida, (k) - Fator de Abrangência e (Veff) - Graus de Liberdade Efetivos, todos com suas unidades no SI, exceto (k e Veff) que não tem unidades.
Nota: Os nomes dos parâmetros acima, podem variar de um laboratório para outro, ou de um Provedor para outro.
(viii) – Identificação dos Responsáveis pelos dados do certificado. Se for acreditado, ainda é preciso ter o nome do Signatário Autorizado, se for rastreado, basta apenas um responsável técnico.
(ix) – Se rastreado, deve aparecer a logo do Provedor Externo, se Acreditado (RBC), além da logo do Provedor Externo, precisa ter também ter a logo da CGCRE – Coordenação Geral de Acreditação, identificando que aquele serviço é acreditado.
9.0 – O que o Certificado de Calibração Não Deve Ter
Abreviações, rasuras, colunas ou células em branco não utilizadas, gráficos de tendências, com raras exceções, padrões com dificuldade identificação, omissões da validade dos padrões, ou do laboratório que calibrou estes padrões etc.
Autor: Abdias Barbosa
(i) - Gerente Técnico da ABD Metrologia; (ii) - Avaliador da CGCRE / Inmetro (RBC), para diversas grandezas; (iii) - Consultor para implementação RBC de diversas grandezas (Balança, Peso Padrão, Massa de Peça Diversa, Temperatura e Umidade, Pressão, Vazão, Volume e Massa Específica); (iv) - Consultor para implementação da calibração de novos equipamentos; (v) - Instrutor para assuntos Metrológicos (Cálculo da Incerteza, Interpretação de Certificado, Montagem de Critério de Aceitação, Qualificação de Provedor Externo) etc.
Email: [email protected] // Fone: (19) 99693- 0372