Muitas etapas da metrologia são esquecidas, ou executadas de forma inadequada, um exemplo, é a Qualificação dos Provedores Externos. Esta é uma tarefa que é bastante negligenciada, mesmo nas empresas onde se tem um Sistema da Qualidade implementado e que passa por auditorias frequentes.
Qualificar um Provedor Externo de Serviço ou Produtos, tem o propósito de evitar problemas, quando o serviço ou produto, já está sendo ou já foi totalmente entregue.
Destacamos, que os Provedores, de produto ou serviço, precisam ser antes qualificados, como descreve a ABNT NBR ISO / IEC 17025 (norma para gestão de Laboratórios de Calibração e Ensaio), no seu “item 6.6 – Produtos e Serviços Providos Externamente”, onde afirma que os serviços ou produtos a serem entregues, só devem ser iniciados, quando todas as dúvidas ou pendências entre as partes, forem resolvidas.
1.0 – Qual é o Objetivo desta Qualificação?
1.1 – Conhecer a Estrutura do Fornecedor
O principal objetivo da qualificação, é conhecer a estrutura do seu Provedor, com o preenchimento de questionário, por exemplo, para comprovar se este tem as condições necessárias, tais como (padrões adequados, planilhas de cálculo validadas, pessoal treinados, conhecimento sobre os equipamentos a serem calibrados, agenda, certificado adequado etc.) para entregar o serviço que é preciso.
Na escolha do Provedor de Serviço, depois de receber duas ou três propostas comerciais, escolher o menor preço, sem nenhuma análise sobre a qualidade, estrutura dos participantes, não é uma grande escolha e certamente haverá problemas difíceis de serem resolvidos, mais à frente.
Nota 1:
Se o Provedor tem uma Acreditação (RBC), ou seja, ISO 17025, Certificação ISO 9001, ISO 14.000 ou ISO 22.000, por exemplo, é um bom indicativo de que este sabe claramente, o que será preciso entregar.
Nota 2:
Se o Provedor tiver por uma acreditação ISO 17025, não é preciso preencher o questionário da qual falaremos a frente, desde que seja acreditado na Grandeza que preciso calibrar. Se tiver outros equipamentos onde este Proveder de Serviços, não é acreditado seria bom aplicar o questionário.
1.2 - A Qualificação por Questionário
A qualificação pode ser feita de duas maneiras, com visitas às instalações do Provedor, o que é preferível, ou ainda, com envio do questionário, por email, quando se tem grandes distâncias e custos elevados para isso.
A contratação de um Provedor, sem qualquer qualificação ou análise, deve ser evitada de qualquer maneira. Como se quer ter produtos e serviços de qualidade, se etapas importantes, não foram atendidas?
O questionário possui todas as perguntas necessárias, para se levantar mesmo à distância, se o candidato a Provedor, possui todas as condições necessárias para lhe prestar um serviço de qualidade.
Exemplo 1: Tenho uma balança semi-micro, resolução de 0,000 01 g. Meu candidato, precisa ter pesos padrões, com classe E2 para calibrar esta balança, classes menores (F1, F2, M1, M2 e M3), não são adequados neste exemplo.
Exemplo 2: Tenho um termômetro com resolução de (0,01 °C), o meu Provedor de Serviço, precisará ter um Termômetro Padrão com resolução de 0,001 °C, ele tem? Se sim, anexar o certificado de calibração comprovando esta informação. Apenas baseado na resolução, dá para checar a qualidade dos padrões de referência do meu candidato.
Exemplo 3: Preciso que seja calibrado o valor de 500 °C. Meu "Provedor de Serviços" tem em seus padrões de referência, este valor calibrado RBC? Se tiver calibrado um valor maior que 500 °C, já servirá, menor não.
Outra tarefa imprescindível, é ver os certificados já emitidos por este Provedor, são consistentes, ou se já enxerga problemas ou necessidades de mudanças neste documento.
2.0 – Validação do Certificado de Calibração
Depois de qualificado o seu Provedor, aprovada a Proposta Comercial, vem a realização dos serviços e aí tem uma outra etapa ainda menos compreendida, que é a interpretação do certificado e sua consequente validação, caso todos os dados e resultados estejam bons e adequados.
2.1 – O que analisar num certificado de calibração?
Um certificado para conter as principais informações necessárias à sua aprovação, precisa ter:
(i) - Um título e um que seja único;
(ii) - Símbolo da acreditação (caso seja RBC), ou ISO 9001 (caso o tenha);
(iii) - Dados do cliente tais como razão e endereço;
(iv) - Dados do equipamento em calibração, tais como marca, modelo, identificação (número de série ou tag), classe, capacidade, resolução;
(v) - Rastreabilidade ou Padrões Utilizados, com identificação do padrão, empresa que o calibrou (é fundamental que esta seja acreditada RBC nesta grandeza), CAL desta empresa, data da calibração e validade da calibração, ;
(vi) - Condições Ambientais, com a temperatura ambiente, a umidade ambiente, e em alguns equipamentos tais como (balanças, volume, pressão, força etc.) com pressão atmosférica também.
(vii) - Procedimento e método de calibração utilizado;
(viii) - Responsável, data calibração e data da emissão do certificado;
(ix) - Tabela de resultados, com Valor Nominal, Valor de Referência, Valor do Objeto, Erro, ou Correção, Incerteza Expandida, Fator de Abrangência, e Graus de Liberdade Efetivos. É o obrigatório que caso haja abreviações, tenha uma legenda para esclarecer o significa o termo abreviado.
(x) - Frases de rodapé, com informações complementares.
(xi) - Assinatura e responsável pelo certificado.
2.2 – Critério de Aceitação
Para todo equipamento crítico existente, onde há uma calibração para garantir a qualidade dos resultados, é necessário que se tenha um Critério de Aceitação (CA), para validar o certificado deste equipamento crítico, por isso ele foi calibrado. Os dados utilizados para esta etapa são o Erro (E) e Incerteza Expandida (U).
Uma maneira, é calcular a Incerteza Resultante (IR), como sendo a soma quadrática do Erro e Incerteza Expandia, ou seja, IR² = (E² + U²).
Com base na (IR) e no seu processo, ou seja, o que o processo permite errar numa medição, monta-se qual é o tamanho do Critério de Aceitação, mas sempre partindo de um certificado de calibração, pois ali temos os dois parâmetros utilizados para isso, o (Erro e Incerteza Expandida).
2.3 – A validação do Certificado de Calibração
Com o Critério de Aceitação (CA), montado para todos os itens críticos, e por isso foram calibrados, temos duas formas bastantes utilizadas de validação:
2.3.1 – Primeira forma (CA ≥ IR)
Depois de atendido todos as informações do (item 2.1) e se o Critério de Aceitação (CA) for maior ou igual a (IR), o certificado é consistente e válido para uso, o equipamento pode ser liberado.
2.3.2 – Segunda forma (CA / 3 ≥ IR)
Um Critério de Aceitação maior, por exemplo (CA / 3 ≥ IR), vai aprovar muito menos equipamentos que o Critério do item 2.3.1, mas é preciso perguntar ao processo, se realmente preciso de um critério 3 vezes menor, se sim, depois de atendido todas as informações do (item 2.1) este deve ser adotado, ou pode-se fazer uma mescla entre os critérios do item 2.3.1 e 2.3.2.
2.4 – Evidência da Validação
Existem formas complicadas, formulários extensos para evidenciar que houve a validação do certificado, mais no âmbito da CGCRE (nas Acreditações RBC), aceitam como evidência desta validação um carimbo na primeira página do certificado, com os dizeres [validação (nome da sua empresa)], um traço horizontal (para a rubrica do responsável) e um espaço para a data desta validação), conforme desenho abaixo:
Autor: Abdias Barbosa
(i) - Gerente Técnico da ABD Metrologia; (ii) - Avaliador da CGCRE / Inmetro (RBC), para diversas grandezas; (iii) - Consultor para implementação RBC de diversas grandezas (Balança, Peso Padrão, Massa de Peça Diversa, Temperatura e Umidade, Pressão, Vazão, Volume e Massa Específica); (iv) - Consultor para implementação da calibração de novos equipamentos; (v) - Instrutor para assuntos Metrológicos (Cálculo da Incerteza, Interpretação de Certificado, Montagem de Critério de Aceitação, Qualificação de Provedor Externo) etc.
Email: [email protected] // Fone: (19) 99693- 0372